Compras da Prefeitura de Neves tem até impressora por R$ 19 mil

Uma ferramenta criada para assegurar a moralidade no uso dos recursos públicos acabou expondo a Prefeitura de Ribeirão das Neves a uma situação polêmica. O Portal da Transparência, site utilizado pelo Executivo local para publicação de despesas, aponta a compra de inúmeros produtos por preços acima dos praticados no mercado, além de quantidades elevadas de determinados itens.

Levantamento feito por O TEMPO, com base em informações publicadas pela própria prefeitura, mostra que, em fevereiro deste ano, a administração de Neves comprou 350 impressoras matriciais por R$ 19.886 cada uma, enquanto o valor médio de mercado do mesmo produto é de R$ 2.250. Nessa aquisição, foram gastos, no total, R$ 6,96 milhões. A prefeitura comprou, ainda, mais 350 impressoras matriciais, de outro modelo, por R$ 1.748 cada uma, e 2.900 impressoras a laser ao preço unitário R$ 1.167. Na soma, apenas em fevereiro, a prefeitura adquiriu 3.600 impressoras, gastando, no total, R$ 10,95 milhões

 

Ainda na lista de compras, aparece o item "medicamento de alto custo", adquirido por R$ 300 mil. Procurada pela reportagem, a assessoria da prefeitura não soube dizer a que remédio se refere a compra. Segundo informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, o medicamento mais caro do país custa R$ 220 mil e é usado no "tratamento de uma rara doença que ataca o sistema imunológico".

O site também aponta a compra de 235 aparelhos de GPS veicular, apesar de a prefeitura possuir menos de 50 veículos em sua frota oficial. Outro dado inusitado é a compra de câmeras digitais. Em fevereiro, foram adquiridos dois lotes de máquinas fotográficas. Em um dos lotes, o preço unitário do equipamento foi de R$ 527. No outro lote, o mesmo produto foi adquirido por R$ 1.499. Na soma dos dois lotes, foram compradas 2.250 câmeras, com custos de R$ 2,37 milhões.

Quantidades.

Materiais de informática e produtos eletrônicos são maioria entre os itens publicados no Portal da Transparência de Neves. A prefeitura declara ter comprado 139 filmadoras digitais por R$ 3.609 cada uma, quando o preço médio de mercado é de R$ 1.690.

Também chama a atenção a quantidade de produtos adquiridos. Ainda em fevereiro, a prefeitura informa ter comprado 1.001 "câmeras wireless", ao preço total de R$ 804, 2 mil. Apenas em aparelhos "blu-ray player" - que é o mais moderno sistema de reprodução de mídias disponível no mercado -, foram compradas 370 unidades, num total de R$ 253,08 mil. O site traz, ainda, a compra de 14,9 mil estabilizadores, 4.500 placas de mídia para computador, 820 aparelhos de DVD, além de 14,1 mil filtros de linha - que são dispositivos usados para proteger aparelhos eletrônicos de descargas elétricas.

Resposta. 

Durante dez dias, a reportagem tentou contato com o prefeito de Neves, Wallace Ventura (PSB). Em todos os casos, porém, a assessoria informou apenas que ele "não falaria com a imprensa sobre o assunto".

Planilhas "desaparecem" do site
Após o contato da reportagem, as planilhas com a lista de compras da prefeitura de Neves foram apagadas do Portal da Transparência. Uma nova lista, sem os produtos questionados, foi então publicada.
A primeira listagem apresentava um total de R$ 36 milhões gastos no primeiro trimestre. A que foi publicada em seguida declarava despesas de R$ 7 milhões no mesmo período. Questionada, a prefeitura informou apenas que "a segunda é a lista correta". (VM)

Histórico

Broa. 

Em 2006, O TEMPO revelou que a prefeitura de Neves declarava gastar R$ 40 por uma broa de fubá fornecida a escolas da rede pública. Em padarias da cidade, a mesma iguaria custava, no máximo, R$ 1.

FOTO: Rodrigo Clemente – 18.12.2006

O prefeito Wallace Ventura não quis comentar a lista de compras

 

O outro lado

"Foi falha de funcionário", afirma superintendência

Questionada sobre as compras, a Superintendência de Comunicação da prefeitura informou que a lista de compras não pertencia ao municípios e que a publicação no Portal da Transparência teria ocorrido por "um erro de um funcionário".
Ainda de acordo com a Superintendência de Comunicação, a "lista se refere, na verdade, a compras feitas pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais". "A prefeitura apenas solicitou convênio para compra de alguns produtos. A Secretaria de Estado de Saúde é que paga e disponibiliza os produtos aos municípios interessados".
A O TEMPO, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde informou que mantém convênios, não apenas com a Prefeitura de Neves, mas com todos os 853 municípios mineiros. A pedido da reportagem, a secretaria analisou a lista de compras. Após 15 dias, a secretaria informou que as "aquisições não pertencem" à pasta. "A Secretaria de Estado da Saúde desconhece a origem das compras", informou a assessoria.
Questionada novamente pela reportagem, a Superintendência de Comunicação da Prefeitura de Ribeirão das Neves repetiu a informação de que os dados são responsabilidade da Secretaria de Estado da Saúde. (VM)
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